sábado, 30 de janeiro de 2016

A QUEILA MORREU

A Queila morreu
Mas, quem é a Queila, mesmo? Ah! Era apenas uma pessoa extremamente pobre, dessas que ganham bolsa esmola e afrodescendente. Não está inserida em “nosso meio”.


Há semanas antes de ela morrer eu disse a ela que faria uma viagem internacional (Uruguai). Vi em seus olhos uma profunda tristeza que, naquele afã, naquela pobreza espiritual do (oprimido hospedeiro do opressor, vide Paulo Freire), não percebi o que percebo agora. Que ela estava triste, não por causa da despedida ou por qualquer sentimento que as pessoas do “nosso meio” possam perceber. Ela estava triste porque , no fundo se sentia menos. Menos, como sempre se sentiu, durante os 23 anos que viveu.

Por ter nascido negra e pobre. Por ser filha de quem era. Por nunca ter sido convidada sequer para uma festa de aniversário, casamento, etc. Pelos olhares de desaprovação, sutilmente disfarçados, das pessoas que são mais, sobre ela que era menos. Pela situação de penúria que vivia e sempre viveu. Numa casa miserável, recebendo bolsa família. Recebendo víveres por complacência de um falso solidário tio. Porque se fosse solidário de verdade, em vez de simplesmente ajudar, teria a adotado logo ao nascer.

Ái de nós!!! Que estamos amansados, domesticados, civilizados pelo Sistema… SENÃO!?

Nenhum comentário: