quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A CORAGEM DA INOCÊNCIA

O livro "A coragem da Inocência" conta a história de Madre Maurina, uma freira dedicada a proteger e zelar pela saúde de crianças abortadas e abandonadas pelas famílias ricas de Ribeirão Preto. Nesse livro, produzido pelo renomado jornalista Saulo Gomes, é contado, não só a história da madre, mas também de mulheres como Áurea Moretti e Dilma Rousseff em suas lutas e sofrimentos contra uma Ditadura Militar que manchou de sangue a história de Ribeirão Preto e do Brasil. Logo abaixo deixamos o link em pdf para ser baixado gratuitamente.

Apresentação
“A CORAGEM DA INOCÊNCIA”
Só uma ditadura é conduzida por homens, ditos seres humanos,
capazes de arrancar da sociedade uma pessoa que, eles sabem, é
inocente, e persegui-la, prendê-la, torturá-la e bani-la do País onde vivia
sua missão de cuidar de crianças sem pai, mãe ou família. Para aqueles
meninos e meninas, ela foi, a um só tempo, tudo e todos. A “coragem” e
a “inocência” são de madre Maurina Borges da Silveira. A “covardia” e a
“culpa” são dos ditadores e seus cúmplices, corajosos só enquanto os
acoberta a ditadura, mas serão covardes e culpados para sempre.
É um trabalho de fé de seus familiares, inspirados na luta de seu
irmão frei dominicano Manoel Borges da Silveira, que aos 83 anos não
desiste nem se omite na defesa dos injustiçados. Não é uma obra de
reparação de injustiças, mas um alerta para a sociedade jamais fugir à sua
obrigação de vigiar o Poder e não se submeter às suas arbitrariedades.
A ABAP – Associação Brasileira dos Anistiados Políticos reúne em “A
coragem da inocência”, com realização do jornalista Saulo Gomes e
texto final do jornalista Moacyr Castro, a indignação jamais esquecida
daqueles que viveram e sofreram o estoicismo desta religiosa, que nem
conhecia o significado das acusações que lhe faziam. Mas sempre
soube de quem partiu a vingança dos que a queriam longe de suas
consciências manchadas. Todos, das famílias ricas que abandonaram
seus filhos pequenos numa creche, carcereiros, policiais e patrocinadores
das crueldades, aos ministros e presidentes militares, foram atingidos
pela coragem da inocência da madre Maurina e condenados pela
grandeza dela mesma, que, ainda assim, os perdoou.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

À Sombra do Cipreste



Confira resenha de “À Sombra do Cipreste”, de Menalton Braff.

Por Laercio Penafiel Pires
 Depois da série de resenhas de contos de Salvador dos Passos, estamos estreando, agora a resenhar contos de Menalton Braff. Iniciamos com “À Sombra do Cipreste”, que além de ser o conto inicial, também é o nome do livro. Livro com a mesma riqueza literária dos escritos de Salvador dos Passos, pois para quem ainda não sabia, Menalton e Salvador dos Passos são a mesma pessoa. Ocorre que este escritor, nos anos que lutava pelas liberdades democráticas, nos anos de chumbo, se utilizava do pseudônimo “Salvador dos Passos”.Depois das explicações devidas, vamos à resenha.
 

RESUMO
Narrado em primeira pessoa, “À sombra do cipreste” é a reflexão, durante uma tarde preguiçosa de domingo pós-almoço, sobre a vida, a natureza humana, a velhice e a morte.

RESENHA

A velha senhora lembra que desde sempre, desde que se percebeu existente, ele (o cipreste) já estava lá, alto e só. Quando criança, brincando com as outras, fechava os olhos e pascia ovelhas de algodão em torno de velhos castelos.

Naquela tarde de domingo, após mesa farta demais para suas idades, os filhos sobem bocejando e arrotando, como ela os ensinara há mais de cinquenta anos.

A sombra do cipreste já sobe pela janela e desce pelo chão da sala, enquanto seus netos, em torno da mesa discutem (discursam) bravatas entre si, cada um querendo saber mais do que os outros. Falam sobre fórmula um, bolsa de valores...

Do sofá, ela pede que um dos netos (o mais gordo) arrede a cortina, pois nessa penumbra nem de óculos consegue enxergar. O neto, maliciosamente comenta que ela deveria subir para descansar junto aos “velhos”. “tenho toda eternidade para essas coisas”. Na verdade ela prefere ficar observando as tolices que eles falam, para silenciosamente rir-se deles.

Enquanto a sombra do cipreste vai chegando vagarosamente perto de seus pés, ouve um dos netos comentar com ela que: “no lugar dessas plantas ao lado da casa, um campo de golfe seria muito mais apropriado e proveitoso. Né vovó”? “Enquanto eu viver, ninguém mexe no meu jardim”.

Na televisão, um acidente. Morte. Os netos começam um debate sobre a Megera; num dado momento, perguntam-lhe: “o que a senhora acha vovó”? Percebendo nessa pergunta muito da maldade da natureza humana, responde, resmungando, rude, de um jeito que eles não compreendem. Mas, ela compreende que eles imaginam, na sua imaturidade, que são os inventores da juventude, e que tudo sabem.

As cortinas balançam ao som da gritaria dos filhos dos seus netos, que brincam à sombra do cipreste. Talvez, quando essas crianças estiverem crescidas, se sentindo muito sábias, estarão em torno da mesa, depois do almoço domingueiro. Mas, a sombra do cipreste já não estará mais lá.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A Capucheta

A capucheta não é uma pipa, papagaio, quadrado, ou  coisa que o valha; pois ela não tem rabiola, nem varetas ou cabresto. Ela é apenas uma folha de papel dobrado, qualquer papel serve, até uma folha de revista. Aí, liga-se a ela um fio de linha de costura e pronto, está pronta pra voar. Ela é mui simples.
Mal as férias escolares começaram e o céu coalhou de pipas, com suas estruturas bem montadas , de papel celofane, varetas bem esticadas e coladas; suas rabiolas com anéis de todas as cores, o corpo com desenhos variados: times de futebol, bandeiras de países, desenhos de carrões e por aí vai. Bem tranquilas as pipas sobem, deslizam de um lado para o outro no céu de brigadeiro. Parece uma festa. E é.
Vermelha, a capucheta vibrava ao passar do vento. O que para as pipas era apenas uma brisa, para a capucheta era um vendaval, um tornado. Mas ela enfrentava o desafio com bravura; quando o vento estava a favor, subia feliz como um pássaro dominando a situação. A linha, mal esticada, formava uma barriga que parecia pesada demais para tão frágil criatura. Mas o vento estava a favor.
De repente, no refluxo, no revorteio do vento, ela murcha e queda, parecendo um pássaro, que fora atingido por bala assassina. Ao descer, a linha que formara uma barriga, fica cada vez mais frouxa. A capucheta sumiu atrás do arvoredo. Teria finalizado sua bela aventura? Não, um vento de esperança, vento a favor, dá o ar da sua graça, e a vermelhinha ressurge acima do matagal. Ao ganhar novas energias da benevolente ventarola a belezura recomeça sua subida rumo ao mais alto do céu, disputando espaço com as pipas saradas, fortes. 
Assim é a vidinha da capucheta. Frágil, ela vai ao sabor do vento. Não tem estratégias e não tem nenhuma estrutura mais elaborada, apenas contando com sua intuição, coragem e o vento a favor. Parece alguém que eu conheço!