domingo, 19 de outubro de 2014

GESTO IRRISÓRIO

Confira resenha de “Gesto irrisório” em “Na força de mulher”, de Salvador dos Passos, por Prof. Laércio Pires (19/10/2014)
Por Laercio Penafiel Pires
Nesta serie de resenhas que estou postando (esta é a segunda) eu procuro, com toda humildade, reproduzir, com o olhar de um neófito que sou, a riqueza literária que são os escritos de Salvador dos Passos, pós graduado em Literatura. Ele explora, nesse conjunto de contos, os conflitos homem-mulher, bem como a eterna solidão de algumas delas. De outro lado relata a força e determinação inerente à maioria delas.

Resenha
Em uma linguagem até certo ponto enigmática para o leitor comum, Salvador narra a história de algumas mulheres, a partir do imaginário de uma delas (Eva).
Esse conto incomum abrange um largo espaço de tempo (imaginado). Na realidade o tempo verdadeiro (alguns minutos) transcorre durante o caminhar de uma formiga que sobe pela perna de Eva. A história acontece num lapso e termina com o dedo de Eva distraidamente derrubando a formiga de sua trajetória.
O caminhar sem rumo da formiga que escolhera um caminho que jamais percorrerá pode ser uma analogia aos projetos de vida de algumas pessoas (como Rita) que são tiradas da vida precocemente.
A história transcorre em meio ao aroma das flores (de um velório), que por vezes se torna nauseante, briga dos netos, fanfarronices do genro Rui; tolice geral. O passar das estações do ano busca semelhança com o passar da vida das pessoas.
Ainda pálida, sua Ritinha. Ainda bela. O cabelo arranjado como o usara: escorrendo livre para os ombros. O corpo em postura rígida, é bem verdade , quem sabe incômoda; mas necessária ao ritual (pag 22).
Na cabeça de Eva se passa, não apenas o que presencia e participa (velório de sua filha Rita). Mas num vislumbre antevê uma ocasião futura, onde a sucessão das estações do ano trarão o nascimento da sua neta Ritinha.
Um tanto pálida, sua Ritinha, quem sabe o leite. Olhará para as mãos irrequietas e descobrirá o mundo no mesmo instante em que padre Anselmo estiver espargindo lhe os sacros pingos e proferindo em nome de quem eu te batizo, Rita (pag 23).
Vislumbrará nova reunião (aborrecida) familiar com todas as tolices e frivolidades dos genros, filhas, briga dos netos e os sermões e anedotas do padre Anselmo.

O mês novamente será maio...

terça-feira, 14 de outubro de 2014

ESPERANDO ANOITECER

Confira resenha de “Esperando anoitecer” em  “Na força de mulher”, de Salvador dos Passos, por Prof. Laércio Pires (14/10/2014)

Por Laercio Penafiel Pires

Pós graduado em Literatura, Salvador dos Passos, explora, nesse conjunto de contos, os conflitos homem-mulher, bem como a eterna solidão de algumas delas. De outro lado relata a força e determinação inerente à maioria delas.

Resenha
Esperando anoitecer relata o vivenciar de duas comadres, numa tarde ociosa de domingo. As duas sentadas no sofá, um gato a enrodilhar-se num canto. Na parede um daqueles velhos retratos de casal (de antigamente).
Lídia, a dona da casa, é a mais falante. Arminda (visitante), mais escuta. Enquanto esperam a água da chaleira, para o café, ferver, conversam. Relembrando o passado Lídia reclama o  tempo todo da situação de penúria em que vive. Fala do pai que era muito rico, tinha duas fazendas, uma em Ribeirão Preto e outra em Barretos; mas perdeu tudo porque tinha “sangue quente” e gastava tudo com a mulherada. Muito repetitiva, quando o assunto terminava, começava tudo de novo, falando da fartura que era na fazenda de seu pai, “muitas frutas, porcos...”
Que fartura! Não sei, não. Só vendo, mesmo. Depois vieram as demandas, sabe, questão de terra mal medida, cerca errada, olho gordo de gente poderosa, essas coisas (pag. 11)

Arminda, pacientemente, ouvia, como boa comadre e visitante. Nas poucas vezes que falava, reclamava que, diferentemente da amiga Lídia, não tinha nem mesmo uma aposentadoria do INPS (atual INSS). Vivia de favor com uma filha que era “bailarina”. Lídia critica a comadre por não ter trabalhado registrada e sempre depender do marido cachaceiro e vagabundo, que não lhe deixou nem mesmo uma pensão.
O dia vai chegando ao fim, as sombras vão tomando conta de tudo.
Após tomarem o café com bolinhos, as duas, sonolentas, se arrastam de volta para o sofá da sala.

Lídia recomeça as mesmas histórias de sempre:  – Meu pai era um homem muito rico, perdeu tudo por causa da mulherada, não podia ver mulher bonita... Fruta, hum... que fartura, tinha tanta que jogava para os porcos, muitos porcos...