sábado, 24 de abril de 2010

Fracasso dos alunos... Ou do sistema?
*Estudante: cursando 3° ano de Pedagogia

Fala-se muito, em Pedagogia, do fracasso escolar, das dificuldades de aprendizagem no ensino básico: educação infantil, ensino fundamental e médio; existe uma infinidade de estudos desenvolvidos e outros em andamento para tentar solucionar esses problemas, que parecem cada vez mais insolúveis. Psicologia, Sociologia, Filosofia, Historia da Educação entre outras matérias se debatem em águas turvas num desespero total, na busca de soluções. Tenho a impressão que o sistema de ensino é um carro descendo uma ladeira cujo final dá num precipício, e pior, sem freios.

Não vi ainda, não sei se há, essas preocupações - sobre dificuldades de aprenizagem - com relação aos estudantes do ensino superior; se há eu gostaria de conhecer, pois pretendo me debruçar sobre esse assunto em futuro não muito distante, mesmo porque não tenho muito tempo, já estou com 62 anos.

Não estou aqui, neste ensaio, procurando culpados; nem professores, nem instituições de ensino nem alunos, pois todos somos vítimas do mesmo sistema. Mas é urgente que haja uma concientização de que grande parte dos alunos de faculdade são jogados na graduação com sérias dificuldades que ele desconhece e que quando não consegue se sair bem numa avaliação sente uma imensa tristeza, e fica com a sensação que não tem inteligência. As avaliações, por sua vez, são elaboradas de uma forma a deixar o aluno cada vez mais desmotivado, chegando ao ponto de alguns desistirem do curso por acharem que não têm competência; e os que continuam se sentem em um emaranhado de material de estudo que se avoluma cada vez mais, se tornando uma montanha intransponível; isso deixa-o com a certeza de ser menos inteligente do pensava há algum tempo... Esse formato de prova em nada ajuda o aluno, nem ao professor, tampouco a instituição. Esse formato que cito é o seguinte: Enche-se os alunos de material: muitos textos, indicação de livros, durante dois ou três meses e após esse tempo faz-se a avaliação da seguinte forma – pinça-se 3 ou 4 questões daquele monte de material e entrega-se para o aluno como se fosse a coisa mais fácil do mundo, mais básica, mais simples. Mas na visão do aluno a coisa é bem diferente do que ao professor para quem aquele assunto é a sua vivência, é o seu dia-a-dia, é mamão com açúcar. Para o aluno esse formato é semelhante a lhe dar uma bíblia na mão durante dois ou três meses e após esse tempo, pinçar dois ou três parágrafos e colocá-lo para responder como se fosse a coisa mais coisa mais fácil do mundo, mais básica, mais simples...

Não seria muito mais coerente e mais sensato que após as leituras dos textos, as provas fossem ao modo de questões de múltipla escolha e uma redação, como acontece nos vestibulares e na maioria dos concursos que conhecemos. Afinal, esse formato iria demonstrar se o aluno tem ou não a competência para interpretar textos; esse formato vai comprovar também se o aluno está estudando (se inteirando do assunto), se está desenvolvendo o discurso próprio; se preparando para a vida profissional.

Nos dias de hoje não há mais lugar para decorebas, porque o volume de informações e conhecimentos que precisamos adquirir é muito grande, enorme. Ninguém guarda todas informações e conhecimentos que adquire, de forma clara e bem delineada; na verdade vamos criando, em nosso cérebro, sentimentos relacionados com cada assunto; e no final de cada material lido temos a competência de discutir sobre o assunto, mas não temos condições de lembrar especificamente de cada detalhe do que lemos, afinal não somos um computador; mas temos todas as condições de reconhecer em uma série de questões, quais estão certas e quais estão erradas, por isso a sugestão de provas com questões de múltipla escolha.

No Brasil há um imenso atraso em relação aos países avançados, não apenas no que tange à educação, mas também no universo do trabalho, das empresas; lá, diferente daqui, quando um técnico vai dar assistência em algum equipamento ele leva na maleta, junto das ferramentas, uma apostila básica com informações sobre o maquinário; e quando a apostila não lhe dá todos os dados que necessita ele acessa a Internet em busca da solução. Nem por isso rotula-se o técnico como incompetente, ao contrário, ele mostra que não tem tudo na ponta da língua, mas sabe muito bem onde encontrar as informações que precisa, e o que fazer com elas. Assim também deveríamos enxergar o aluno universitário. Assim também deveríamos nos comportar com ele; pois ele aprende, todavia não tem condições de decorar tudo o que lê; mas certamente este aluno adquire competência para lidar com cada uma das realidades no âmbito escolar e comunidade.
* Laércio P. Pires