quarta-feira, 26 de novembro de 2014

ANOITANDO

Depois de, neste espaço, resenhar “Esperando anoitecer, Gesto irrisório, Na força de mulher, Um dia, outro dia, Divinão amigo fiel”, temos a honra de postar, “Anoitando”. Confira - De Menalton Braff. Por Prof. Laércio Pires (26/11/2014). Leia este, aqui, ou todos em Gazetta Revolucionária.

Por Laercio Penafiel Pires


RESENHA

A sutileza é a marca principal deste conto que narra o encontro de um homem e uma mulher. O contexto e as imagens sugeridas pelo autor nos leva às vezes duvidar e outras a acreditar que se trata de um encontro amoroso. As investidas de Gaspar que pacientemente vão demolindo as resistências de Jandira acontecem num fim de tarde (por do sol), em um quintal. Tudo supõe que se trata de uma velha construção cujo quintal é um misto de horta ou pomar abandonado. As frases dúbias de ambos misturam-se em nossa imaginação. Representações metafóricas, que parecem eróticas e por vezes de uma concretude que leva o leitor a crer que está diante do planejar de uma reforma do local que servirá como futura moradia do casal de namorados, causam uma inquietação curiosa e prendedora que nos obriga a ir até o desfecho final.

No entanto, no decorrer do texto, a ideia de jogo da sedução que antecede a relação amorosa (acasalamento) vai ficando cada vez mais explícita e patente. Com as investidas de Gaspar e as esquivadas de Jandira, que vai aos poucos perdendo a resistência e que por fim se entrega aos carinhos de Gaspar, vendo-se transformada de menina em mulher, chega-se ao clímax deste conto formidável.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

DIVINÃO AMIGO FIEL

Dando continuidade nesta série, confira resenha de “Divinão amigo fiel” em  “Na força de mulher”, de Salvador dos Passos, por Prof. Laércio Pires (24/11/2014)

Por Laercio Penafiel Pires


Resenha
Este conto, narrado em terceira pessoa, relata a intensa aflição de Sinval, um cabo da Força Pública (polícia da época, anos 60), que é apaixonado pela Nanci (sua princesa). Faz dela sua esposa, prometendo que será capitão em breve, promessa esta que sugere melhores condições de vida, pois o soldo (salário) de capitão é mais volumoso do que o de um simples cabo. Nanci, mulher linda e cobiçada, com o tempo vai se cansando da vida pobre e vendo que o seu cabo não passa nunca a capitão, começa a “sair” com outros homens, dos quais ganha muitos presentes caros e bonitos.
Todo mundo sabe das traições praticadas por ela, menos o corno do Sinval (o marido é sempre o último a saber). Talvez ele não queira enxergar a verdade que todo mundo vê.
Mas, as insinuações da comadre e de outras pessoas desencadeiam nele o desejo de vingança, desejo de matar. Não matar ela que é a sua princesa, mas sim os covardes que se aproveitaram de uma desmiolada que apenas se deitou em troca de coisas bonitas e valiosas como ela.
Sendo um homem de bem, precisava beber para criar coragem de praticar o crime. O primeiro gole esquentou o segundo deu coragem e o terceiro tirou o juízo. Passou a noite bebendo e deu alguns tiros que chegou a ferir homem. Já é madrugada quando entra no bar, onde há apenas dois homens, o balconista cochilando e o Divinão, seu amigo do peito.
Sinval pergunta ao Divinão se ele é seu amigo, mesmo; Divinão diz que sim, “pela luz que me alumeia”. Ato contínuo, Sinval quer saber sobre boatos falando da traição: – Você “anda” saindo com a Nanci?
[“A claridade azul da madrugada disfarçou o sorriso escarninho de Divinão. Contar poderia tudo, pois medo desconhecia. Mas, quem pergunta nem sempre quer saber, não é mesmo, meu compadre? (pag. 63)”]
Em rápida reflexão, Divinão pensa que: “quem pergunta, nem sempre quer saber a verdade”, e responde que não.
Sinval agradece ao amigo dizendo que se os boatos fossem verdadeiros teria de matá-lo.

Tudo resolvido, com a honra restaurada, Sinval aceita viver num mundo imaginário, onde ela é a sua princesa, e os dois reinam felizes. Só que a felicidade não é perfeita. De vez em quando brigam e às vezes dá até delegacia. Mas ela sempre vence todos os litígios; sabe o quanto é gostada. Ele, que não conseguiu melhorar o soldo (não consegue virar capitão), vai se acostumando ao rastejamento e humilhações, em troca da certeza de manhãs mornas, restos de noites requentadas.

domingo, 16 de novembro de 2014

Um dia, outro dia

Confira resenha de “Um dia, outro dia”, de Salvador dos Passos, por Prof. Laércio Pires (16/11/2014).
De forma magistral, Salvador dos Passos relata, neste conto, em terceira pessoa, a angústia de um homem (Hipólito), no seu último dia de trabalho.
Por Laércio Penafiel Pires

RESENHA
São 9h da noite. Ele está na rua, ainda sob o efeito das doses de uísque que tomara na festa de despedida que os colegas do banco fizeram para ele. Nesta festa, recebeu até medalha, com direito a discurso homenageando-o, proferido pelo seu chefe, senhor Lucas.
Sem coragem para encerrar o último dia, resolve que não vai direto para casa, onde vive só. O outro dia (dia seguinte) lhe mete medo. Enquanto ainda estava no mercado de trabalho tudo era repetição, tudo era previsível, conhecido, seguro. A escrivaninha o espaço, relatórios... Agora, o desconhecido, a incógnita, a casa vazia. Se ao menos tivesse alguém para conversar, ouvir, visitar.
Decide que fará o trajeto diferentemente do usual, não pegará o ônibus no lugar de sempre. A cada bar que passa, toma um trago. Passa a madrugada entre lanchonetes e padarias, bebendo e refletindo sobre a infância livre nos riachos.

[Depois de trinta e cinco anos de entrega total, a auto anulação, para quê? Para ter a recompensa de uma despedida com uísque e o abraço final de um diretor? Claro que não. Trabalhara por necessidade de sobrevivência. Mas vivera em função de que, se a vida fora ela toda consumida no trabalho e se trabalhara por necessidade de sobreviver? Vivera, afinal, meramente em função da necessidade de viver? Vivera meramente mera vida (pag 53.]

Quer retardar o máximo o enfrentamento com o “outro dia”. Em certo momento, no final da Av. Brigadeiro Luiz Antônio, vê um casal de namorados e sente vontade de conversar, mas falta-lhe coragem.
Enfim, a madrugada vai terminando e ele tem de ir... Toma um taxi, desejando que a viagem para casa nunca termine.

[Fecharia os olhos, como outrora, e sua mãe viria quietamente puxar os cobertores. O corpo engelhado, entretanto, dói-lhe e faz-se uma presença da qual não poderá escapar. O edifício onde mora (pag. 54)]

Ao sair do taxi, na calçada, sozinho, Hipólito reluta. Procura a chave no bolso, acende um cigarro. Angustiado, entra...


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Na força de mulher


Confira resenha de "Na força de Mulher", do escritor Salvador dos Passos, por Prof. Laércio Pires (06/11/2014)
Por Laércio Pires

Resumo

A história transcorre toda no relato de Angelita (em primeira pessoa), que inicia contando, para um suposto advogado, como foi sua vida de casada com Dinarte, que entrou para o casamento só com a roupa do corpo e a esperteza, e ela, trouxe certo patrimônio de família, a terrinha, noventa braças de campo mais um banhadinho (alagado). Depois de revelar toda história na qual o Dinarte some varias vezes levando o resultado da labuta (mais dela do que dele), sendo que cada vez que aparecia fazia mais um filho nela, totalizando treze. No final do relato ela pergunta:  - Doutor, ele pode fazer uma coisa dessas comigo?

Resenha
Depois de algum tempo de casados o Dinarte começou sentir certo enfado pela vida no campo e tanto fez que a Angelita aceitou vender uma parte da terrinha para comprar um terreno na zona urbana e construir um comércio (armazém). Mas, em pouco tempo cansa-se também dessa atividade e resolve comprar um caminhão alegando que precisava ampliar os negócios. Angelita no princípio não queria, mas, devido a insistência de Dinarte, cedeu. Nos primeiros tempos foi uma beleza, pois o caminhão era um desfrute, levando a família pra todo lado. O desfrute durou pouco porque o Dinarte que era muito irrequieto começou a dizer que para ganhar mais dinheiro precisava fazer longas viagens com fretes mais “gordos”.
A cada viagem  o tempo de Dinarte fora de casa mais se ampliava. Por fim, Angelita acabou descobrindo que ele já vivia, em outra cidade, maritalmente com outra mulher, mais nova, viúva e mãe de cinco filhos. Com o passar do tempo, a Angelita já estava velha e enfraquecida, mas que segundo ela ainda tinha “a força de mulher”, embora já com treze filhos, resultado das vindas e idas de Dinarte, sendo seis com ela e sete  já casados. O Dinarte apareceu dizendo que estava falido e sozinho (a outra o pôs pra correr).
Dinarte tentou voltar com Angelita, que ia quase aceitando, somente recusando quando ele disse que teria de vender todas as terras e investir o dinheiro em um comércio na cidade.
 – Ah! Isso não! – disse ela.  – de jeito nenhum!
Diante da recusa, Dinarte deu pra ameaçar Angelita, dizendo que:
 – Posso colocar você pra fora e vender tudo, deixo você sem nada.
Depois das ameaças de Dinarte a Angelita, em dúvida, sobre qual será o futuro dela e dos filhos, temerosa, diz pro “doutor”:
 – Doutor, ele pode fazer isso comigo?