sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Pessoa Rara



Pessoa rara,

No singular, porque é ímpar. Estou me referindo ao Valter Ribeiro. Valter Ribeiro, como muitos sabem, é uma lenda; não uma lenda viva, pois já fez a “travessia”, foi dessa para a melhor, morreu.

Para os mais jovens, viventes deste novo século, preciso explicar que Valter Ribeiro foi, a meu ver, o melhor líder sindical que Ribeirão Preto já conheceu. Os outros, são os outros.

Haveria muito o que falar sobre essa pessoa extraordinária que foi Valter Ribeiro, mas vou me limitar a relatar um entre tantos acontecidos fantásticos na vida desse homem, que foi Presidente do Sindicato dos Servidores de Ribeirão Preto.

Uma ocasião, o Vartão, como era conhecido entre os amigos, chegou na roda de amigos e anunciou: “gente, comprei um carro novo”; todos olharam pra ele. Quando o Vartão falava todo mundo prestava atenção, o cara era um verdadeiro “alfa”, apesar de ter nascido e convivido sempre entre o povo humilde que ele tanto amava e respeitava. Bem, todos em silêncio, ele completou: “Comprei um carro novo e estou vendendo o fusquinha, se alguém quiser, aproveite que está licenciado, lataria em perfeito estado e motor ótimo. Quem comprar, não tenha pressa de pagar, pode começar a pagar este ano, ano que vem ou daqui a 10 anos; e se eu cobrar, perco o direito sobre ele. Falo isso e assino”

Mas não precisava assinar, o Vartão era verdadeiro como ninguém. Todos sabíamos que quando ele falava, era aquilo mesmo, sem tirar nem por.

Jair Marrom, outro sujeito inesquecível, se interessou. Percebeu que o Valter, na verdade, estava a fim de doar o carro pra alguém que estivesse precisando de uma condução e não tinha condições de comprar, naquele momento.

Jair Marrom ficou com o carro e nunca teve que pagar por ele.

Era assim que aconteciam as coisas entre aquela turma de amigos.

A maioria já não está entre nós.

sábado, 1 de abril de 2017

A VOZ



Depois de uma boa noite de sono ficamos mais funcionais; o cérebro, o corpo, os órgãos, tudo

funciona melhor. Após o café da manhã ouvi um barulho de carro chegando, era o meu filho que estava vindo pra ajudar a consertar o carro. Depois de umas mexidas no veículo ele disse que eu anotasse as peças para comprar. Fiz isso; em seguida montei  na poderosa (moto) e segui em direção à loja de autopeças. Pelo caminho, capacete aberto, vento no rosto, fui tendo uma sensação boa, diferente: era como se eu estivesse me descobrindo, redescobrindo na verdade. Algo dentro de mim dizia: "você pode, você é bom". Ora bolas, isso é inédito, muito novo; afinal, faz muito tempo que não leio livros de auto ajuda, tampouco frequento cultos religiosos, nem estou louco. Bom, segundo meu psiquiatra eu não sou louco, apenas um pouco ansioso, rsrsrs. Mais algumas voltas nas rodas da moto, mais vento fresco no rosto, a voz repete: "você pode, você é bom". Caramba, pensei, que será isso? Cheguei na loja de peças, balcão lotado, esperei; enquanto esperava, a voz: "você pode, você é bom!" Olhei para os lados, com medo que alguém percebesse algo; mas, não, tudo na mais perfeita normalidade. Depois da compra das peças, voltando para casa, ouvi mais umas duas vezes a afirmação: "você é bom, você pode", já estava até me acostumando com aquilo. No final do dia, carro arrumado, banho tomado, voltei ao "Capital" de Karl Marx e retomei a leitura do dia anterior; leitura que eu julgara muito pesada e de difícil compreensão. De repente, tudo se esclareceu, vi o porquê daquela voz; entendi que aquela voz era do meu inconsciente me comunicando que as páginas que eu havia lido já estava ao alcance do meu entendimento. Devorei novamente o texto sobre a mais valia e compreendi tudinho. Aff!