Quando vejo
um aluno indo para a escola com um carrinho, boneca ou outro brinquedo sinto um
aperto no coração. Eles fazem isso (inconscientemente) porque os brinquedos são
objetos de equilíbrio emocional, pois sentem prazer ao brincar, se expressar e
imaginar que estão sendo “alguém”. Como dizia Paulo Freire: “eles precisam
dizer sua palavra (se expressar), serem mais”. Sinto um aperto no coração
porque em sala de aula, ao sentirem-se infelizes, buscam na mochila o
arrefecimento para a mente; tiram bolinhas de gude, bonecas, carrinhos e
iniciam a brincar. Mas o professor proíbe a felicidade e toma das pequeninas
mãos aquele que poderia proporcionar o instante de alegria para um coração já
tão machucado, em tenra idade. O professor quer que o aluno olhe para si, para
a lousa e para o caderno. O professor fala – “Sala de aula é para estudar!
Afinal, se não quer estudar fique em casa!”
Por outro
lado, o professor, também vítima desse modelo de Educação arcaico, sente-se
ultrajado pela quantidade de pequenos seres, que, juntos se tornam uma multidão
incontrolável, falando, andando, brigando, brincando, chorando ou desafiando o
professor... Menos, estudando. Quando consegue, colocar ordem na sala
superlotada e passar algum conteúdo, o estresse já tomou conta, a pressão
subiu, o estômago doeu e os venenos causados pelas contrariedades já se
instalaram no fígado. A boca amargou.
A sala de
aula é o termômetro de uma sociedade falida. Na educação, como nas outras
áreas, nós estamos passando por uma intensa transição. Vide Marshall McLuhan e
Quentin Fiore no livro “O Meio são as Massagens” (cic):
“Confusões inumeráveis e um profundo sentimento de desespero
emergem invariavelmente nos períodos de grandes transições tecnológicas e
culturais. A nossa ‘Idade da Angústia’ é, em grande parte, o resultado de se
tentar cumprir tarefas de hoje com as ferramentas de ontem – com os conceitos
de ontem” (McLuhan, 1969, p.37).
Estaríamos
nós, professores, tentando lecionar “hoje”, como se lecionava “ontem”? A
relação aluno/professor, de alguns anos atrás era muito diferente, os meios de
comunicação eram diferentes, a criança, o adulto, eram diferentes. Papai não
precisava gritar, bastava olhar, e tudo se resolvia. O professor mandava, o
aluno obedecia... Outros tempos... Queremos voltar a viver daquele jeito?
Nãããão! Mas então, a culpa é do professor, ou do aluno? De nenhum dos dois.
As crianças
e jovens entendem o mundo contemporâneo muito melhor do que nós, e tentam a
todo momento nos chamar a atenção para o que tem sentido aqui e agora, mas,
como estamos com os olhos no retrovisor da vida, não conseguimos ver o que eles
vêm. Veja o que diz McLuhan em outro trecho:
“A juventude compreende instintivamente o ambiente atual – o drama
elétrico. Ela vive miticamente e em profundidade. Esta a razão para a profunda
alienação (afastamento) entre as gerações. Guerras, revoluções, guerras civis
são as faces confrontantes dentro do novo ambiente criado pelos meios
informativos elétricos” ” (McLuhan, 1969, p.37).
Qual seria a
solução, então?
Pois é.
Filósofos, sociólogos, psicólogos, educadores, entre tantos outros, se debruçam
cotidianamente sobre estas questões, sem uma resposta consensual entre eles.
Muitas teses serão ainda escritas e debatidas por muito tempo. A solução virá
quando aprendermos a ouvir a voz que vem dos pequenos, que é a voz do aqui e
agora. Agora!!! Pois quando crescerem, ficarão como nós, olhando pelo
retrovisor da vida.
Laercio Penafiel Pires