segunda-feira, 24 de novembro de 2014

DIVINÃO AMIGO FIEL

Dando continuidade nesta série, confira resenha de “Divinão amigo fiel” em  “Na força de mulher”, de Salvador dos Passos, por Prof. Laércio Pires (24/11/2014)

Por Laercio Penafiel Pires


Resenha
Este conto, narrado em terceira pessoa, relata a intensa aflição de Sinval, um cabo da Força Pública (polícia da época, anos 60), que é apaixonado pela Nanci (sua princesa). Faz dela sua esposa, prometendo que será capitão em breve, promessa esta que sugere melhores condições de vida, pois o soldo (salário) de capitão é mais volumoso do que o de um simples cabo. Nanci, mulher linda e cobiçada, com o tempo vai se cansando da vida pobre e vendo que o seu cabo não passa nunca a capitão, começa a “sair” com outros homens, dos quais ganha muitos presentes caros e bonitos.
Todo mundo sabe das traições praticadas por ela, menos o corno do Sinval (o marido é sempre o último a saber). Talvez ele não queira enxergar a verdade que todo mundo vê.
Mas, as insinuações da comadre e de outras pessoas desencadeiam nele o desejo de vingança, desejo de matar. Não matar ela que é a sua princesa, mas sim os covardes que se aproveitaram de uma desmiolada que apenas se deitou em troca de coisas bonitas e valiosas como ela.
Sendo um homem de bem, precisava beber para criar coragem de praticar o crime. O primeiro gole esquentou o segundo deu coragem e o terceiro tirou o juízo. Passou a noite bebendo e deu alguns tiros que chegou a ferir homem. Já é madrugada quando entra no bar, onde há apenas dois homens, o balconista cochilando e o Divinão, seu amigo do peito.
Sinval pergunta ao Divinão se ele é seu amigo, mesmo; Divinão diz que sim, “pela luz que me alumeia”. Ato contínuo, Sinval quer saber sobre boatos falando da traição: – Você “anda” saindo com a Nanci?
[“A claridade azul da madrugada disfarçou o sorriso escarninho de Divinão. Contar poderia tudo, pois medo desconhecia. Mas, quem pergunta nem sempre quer saber, não é mesmo, meu compadre? (pag. 63)”]
Em rápida reflexão, Divinão pensa que: “quem pergunta, nem sempre quer saber a verdade”, e responde que não.
Sinval agradece ao amigo dizendo que se os boatos fossem verdadeiros teria de matá-lo.

Tudo resolvido, com a honra restaurada, Sinval aceita viver num mundo imaginário, onde ela é a sua princesa, e os dois reinam felizes. Só que a felicidade não é perfeita. De vez em quando brigam e às vezes dá até delegacia. Mas ela sempre vence todos os litígios; sabe o quanto é gostada. Ele, que não conseguiu melhorar o soldo (não consegue virar capitão), vai se acostumando ao rastejamento e humilhações, em troca da certeza de manhãs mornas, restos de noites requentadas.

Nenhum comentário: