O jovem aparentava 22
anos de idade, cabelos despenteados, olhar brilhante, entrou apressado na sala
e cumprimentou a todos, andava apressadamente procurando algo naquelas pessoas
da sala, parou e disse:
- Ouvi falar que aqui,
há vigor da juventude, sorrisos em abundância, resistências às maldades, força
nas mãos e experiências para doar, mas eu preciso acreditar que eu posso ter
tudo isso, que posso ser tudo isso. Disseram-me que sou incapaz, que sou inútil
e me digam, me digam que isso não é verdade!
- Eu preciso de um
abraço, de um afago e me disseram que tudo o que eu preciso está aqui, me
ajudem a encontrar.
O Jovem começa a
procurar dizendo:
- Onde posso encontrar
conforto num abraço, por favor, ajudem-me sorrir...
Pega as mãos de uma
senhora e diz:
- Mãos lindas! Afague
meu rosto? Mãos da experiência, quantos anos têm? Que trabalho fazia? Quantas
vezes escrevestes na lousa, que livros leram? Quanta pessoa ensinou a escrever
e a ler? Você pode me abraçar?
Perguntou ao senhor ao
lado:
Que profissão é a sua?
- Pedreiro? Suas mãos
me dizem que o senhor fez muitas famílias se sentirem confortáveis e
seguras. Aqueles dias quentes em que seu
suor pingava na massa que rebocava as paredes daquele prédio estão lá ainda.
Hoje, é a avenida principal...
Ensine-me a construir
minha vida, me dê conforto!
Olhou ao lado.
- Você motorista,
preciso de direção! De norte, de rumo para a minha jornada.
Todos ficaram
aturdidos, mas todos podiam ajuda-lo, porque havia experiências em abundância. Lá no fundo da sala havia uma senhora de
cabelos brancos e ralos, ela estava quase imóvel sentada numa cadeira de rodas.
_ Eu posso ensiná-lo a
andar e sorrir. Venha e empurre minha cadeira, vamos dar uma volta nesta sala,
pois vou contar a história de minha vida.
O rapaz aceitou o
convite, e todos ficaram observando.
- Está vendo aquele
quadro na parede? Eu tinha 22 anos, era
bailarina e aquele piano, é o mesmo que você esta vendo ali ao lado. Nesta
sala, ensaiávamos nossas apresentações. Era a primeira bailarina e aquele
jovem, casei-me com ele posteriormente. Vivemos de música e dança, mas o tempo
é senhor do nosso destino e mais tarde ele se apaixonou por outra moça e eu
dancei literalmente o tango da despedida. Mas não abandonei meu destino e me
apaixonei por um fã um pouco mais jovem que eu, casei-me novamente. Está vendo aquele homem alto e bonitão ali?
Ainda estamos juntos porque transformamos nossa escola numa casa de todos os
que estão aqui.
A senhora na cadeira de
rodas pediu para que todos fizessem um grande Círculo da Vida e propôs ao jovem
que participasse de uma dança:
_ Venha, quero
apresentar a vocês, o nosso novato aprendiz da vida! Vamos mostrar a você, como
devemos cantar com a nossa voz, bailar com o nosso corpo, dizer a nossa
palavra. Vamos teatralizar, de forma que
você perceba que vamos representar. O teatro é uma representação da realidade,
não é a realidade; em si mesma, porém, essa representação é real. Com isso você
vai aprender a viver intensamente. Topa?
- Sim.
- Então, cada um de nós
irá representar as nossas experiências de vida. O Paolo, meu amado irá dirigir
vocês e cantar com vocês. A Ofélia cuidará dos figurinos, o Adélia cuida do
cenário, juntamente com o Emanuel. Clotilde é a dona da Gafieira e as meninas
são as garçonetes e o Pedro é o apresentador e vocês serão os convidados. Vamos
aproveitar esse momento e colocar em cena o que nós imaginamos que acontecia
nesse local, mesmo sem a nossa presença.
- Proposta: ( Pode ser
um salão de dança, mas haverá diálogos de experiência de vida com os
personagens e suas profissões. No palco desde recinto pode ter declamação de
poesias, paródias e cotação de lendas, histórias....)
Foi o que aconteceu.
Cada um dos presentes organizaram-se
conforme o combinado e transformaram aquele salão com enfeites, flores, a mesas
e cadeiras e no centro o palco.
Paolo começou a tocar o
piano e um dos homens mais simples pediu para contar um causo e Pedro o anunciou:
- Senhoras e senhores,
este é o dia mais importante de nossas vidas!
_ Seu Fulô, suba aqui
no palco, quero que o senhor olhe para
este quadro (o quadro era um espelho bonito), e diga as qualidades deste homem.
O Seu Fulô olhou bem e
emocionado disse:
- Este homem trabalhou muito nesta vida, abraçou a terra e
a adotou com mãe, zelou, plantou milhares de árvores frutíferas, alimentou
milhares de famílias, criou filhos, amou, chorou, sorriu, partiu, desbravou
lugares e hoje está aqui para contar apenas um causo, uma ocorrência entre uma
criança 10 anos mais ou menos e um senhor de idade indefinida... 80, 90, 100
anos...Vamos lá...
O homem está sentado na cadeira de balanço
(espreguiçadeira), cochilando. A criança chega e grita:
- “Ooo! Zezão,,,” – e se prepara pra correr, pois sabe que o
Zezão não tolera que interrompam sua soneca.
Zezão levanta, a principio de vagar depois inicia desabalada
carreira atrás do menino; passando por uma moita pega uma varinha e dispara
pelo carriadô atrás do fedelho...
O menino ria que ria, corria e corria, de vez em quando
olhava pra trás para ver se o Zezão se aproximava. O Zezão corria bem mas quem
disse que alcançava o garoto.
Zezão já meio cansado, com a varinha na mão, diminuía a
marcha dizendo:
- aff, aff, se eu te pego...
Passaram pelo curral, desceram pela várzea. Chegando no Corguinho o
garoto foi tirando a camisa e o sapato e só de short, pulou na água. Mergulhava
e emergia naquela água limpinha, ria que se ria achando que o Zezão não pularia
no corgo. Não pularia, se não fosse aquela sucuri que lentamente ia descendo
pela correnteza por entre as folhagens da margem do córrego. Zezão não pensou
duas vezes, não tirou botina nem roupa, apenas catou o facão que sempre trazia
na cintura para alguma eventualidade. O menino de costas pra serpente, não
percebendo o perigo mergulhou novamente e emergiu sorrindo. Zezão, de facão em
punho saltou pra dentro do riacho e antes do bote da serpente desceu o facão
bem no cabeção do bicho que saiu rolando rio abaixo.
Zezão catou o menino que chorava vendo todo aquele sangue
espalhado na água e vendo a cobra descendo o rio, morta. Tirou o menino da água
e levou-o pra debaixo de uma árvore.
Após o susto Zezão falou:
- Vamos lá pro barraco que vou lhe contá uma história...
Chegando no barraco Zezão deu uns panos pro menino e disse:
Eu vô acendê o fugão de lenha pra aquecê nóis e aproveito pra
fazê um cafezinho pra esquentá o peito...
Cafezinho pronto, do lado do fogão quentinho, os dois (Zezão
e menino), como dois garotos se olharam e começaram a rir, riram tanto que a
barriga até doía...
O menino disse:
- Discurpa, Zezão, te fazê corre daquele jeito...
- Qui u quê, muleque, foi bão pra mim; pra mim alembrá dos
tempo que eu era boiadeiro. Sabe, cono eu era boiadeiro sarvei uma bela
donzela, uma mocinha linda, que gostava de se banhar no lago da fazenda que eu
trabaiava. Tudo dia di tardezinha eu ia espiá a donzela nadá no lago, eu ficava
abobado caquela beleza toda; ela tinha os cabelos bem cumpridos e um rostinho
de santa, ah, que sardade.
Bão, uma tarde, de trás duma arve, eu tava espiando. Na bera
do lago tinha uma pedra grande, ela subiu na pedra e fez uma pose, depois pulou
naquela água azulzinha como o céu. Em vorta do lago tinha um bambuzal dum lado
e um calipiá do outro. Sê sabe qui qui é um calipiá não...?
- Claro Zezão é um montão de eucaliptos...
- É, é isso mesmo, calipe... Enquanto a menina nadava, eu
pensava: “um dia eu peço ela em casamento, quem sabe na próxima festa de São João...
O pensamento voava e voava, e eu sonhava co nosso noivado...
num repente, escuitei os gritos da minha amada (eu sabia que ela era minha
amada, ela não sabia). A cobrona se aproximava, iguarzinha a que atacou ocê...
A sorte que eu nunca me afastei do facão que costumo trazê na cintura. Pulei n’água
de facão na mão, a sucuri já tava enrolando na moça; desci a facona nas costa
da bicha que largou a moça e virou pra mim caquela bocona aberta pra mi mordê...
dei tantas facãozada nela, umas trinta, até que ela parou de se mecher e ficou
boiando sem rumo. Eu corri e já na margem do lago alcancei a tonha, é, o nome
dela era Antônia mas era conhecida por Tonha. Ela me agradeceu muito e dali
nasceu nossa amizade, que virou namoro e depois casamento...
O menino então, com os olhos brilhando disse:
Nossa, vô, então a vó Tonha conheceu você como um herói?
Craro, se ta pensando que seu vô Zezão é pouca coisa...
Os dois riram bastante com a promessa que voltariam a nadar
juntos no Corguinho e depois do Corguinho o Vô Zezão deverá contar mais histórias pro
menino...
Laércio Pires e
Marly Carvalho
Marly Carvalho
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