Confira resenha de “À Sombra do Cipreste”, de Menalton Braff.
Por Laercio Penafiel
Pires
Depois da série de resenhas de contos de Salvador dos
Passos, estamos estreando, agora a resenhar contos de Menalton Braff. Iniciamos
com “À Sombra do Cipreste”, que além de ser o conto inicial, também é o nome do
livro. Livro com a mesma riqueza literária dos escritos de Salvador dos Passos,
pois para quem ainda não sabia, Menalton e Salvador dos Passos são a mesma
pessoa. Ocorre que este escritor, nos anos que lutava pelas liberdades democráticas,
nos anos de chumbo, se utilizava do pseudônimo “Salvador dos Passos”.Depois das
explicações devidas, vamos à resenha.
RESUMO
Narrado em primeira pessoa, “À sombra do cipreste” é a
reflexão, durante uma tarde preguiçosa de domingo pós-almoço, sobre a vida, a natureza
humana, a velhice e a morte.
RESENHA
A velha senhora lembra que desde sempre, desde que se
percebeu existente, ele (o cipreste) já estava lá, alto e só. Quando criança,
brincando com as outras, fechava os olhos e pascia ovelhas de algodão em torno
de velhos castelos.
Naquela tarde de domingo, após mesa farta demais para suas
idades, os filhos sobem bocejando e arrotando, como ela os ensinara há mais de
cinquenta anos.
A sombra do cipreste já sobe pela janela e desce pelo chão da
sala, enquanto seus netos, em torno da mesa discutem (discursam) bravatas entre
si, cada um querendo saber mais do que os outros. Falam sobre fórmula um, bolsa
de valores...
Do sofá, ela pede que um dos netos (o mais gordo) arrede a
cortina, pois nessa penumbra nem de óculos consegue enxergar. O neto,
maliciosamente comenta que ela deveria subir para descansar junto aos “velhos”.
“tenho toda eternidade para essas coisas”. Na verdade ela prefere ficar
observando as tolices que eles falam, para silenciosamente rir-se deles.
Enquanto a sombra do cipreste vai chegando vagarosamente
perto de seus pés, ouve um dos netos comentar com ela que: “no lugar dessas
plantas ao lado da casa, um campo de golfe seria muito mais apropriado e
proveitoso. Né vovó”? “Enquanto eu viver, ninguém mexe no meu jardim”.
Na televisão, um acidente. Morte. Os netos começam um debate
sobre a Megera; num dado momento, perguntam-lhe: “o que a senhora acha vovó”?
Percebendo nessa pergunta muito da maldade da natureza humana, responde,
resmungando, rude, de um jeito que eles não compreendem. Mas, ela compreende
que eles imaginam, na sua imaturidade, que são os inventores da juventude, e
que tudo sabem.
As cortinas balançam ao som da gritaria dos filhos dos seus
netos, que brincam à sombra do cipreste. Talvez, quando essas crianças
estiverem crescidas, se sentindo muito sábias, estarão em torno da mesa, depois
do almoço domingueiro. Mas, a sombra do cipreste já não estará mais lá.
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