segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Eu e o Malhado em Busca do País Ideal



Ele era marrom, com lindas manchas brancas. Logo que o vi gostei dele e ele de mim. Chamei-o de Malhado, ele atendeu prontamente, se aproximou de mim. Parecia que a gente se conhecia há muito tempo, éramos velhos amigos. Malhado era muito mais do que um bom cavalo, era um ótimo companheiro. Quando saíamos juntos a passear, tudo ficava mais bonito. A vida parecia encantada, o mundo se aproximava do ideal.

Em uma de nossas aventuras conhecemos o país ideal. Foi assim que tudo começou:

Malhado e eu estávamos a galopar por uma planície, sentíamos a brisa fresca a nos acariciar a pele. Neste galope passávamos por canteiros de flores do campo, de todos os tipos e cores: Margaridas, magnólias , rosas... O perfume delas nos deixava inebriados. De repente fomos nos aproximando de uma névoa, uma nuvem que nos envolveu completamente. Malhado, cautelosamente foi diminuindo a velocidade, de galope passou a trotar, depois caminhar, até que a névoa desapareceu e chegamos a um lugar diferente. Era uma cidade muito bonita, toda colorida. As ruas eram ladeadas por arvores frutíferas e flores. As edificações eram coloridas com cores suaves: azul-claro, rosa-claro, verde-claro, amarelo-claro, alaranjado, etc. Uma melodia deliciosa e um perfume suave, quase imperceptível enchiam o ar. No rosto das pessoas percebia-se uma expressão de contentamento, alegria. O curioso é que não  víamos automóveis ou motocicletas neste lugar. Os únicos veículos que passavam lentamente a intervalos regulares eram uma espécie de ônibus que não produzia ruído nem fumaça. Ele dava-nos a impressão de estar deslizando num colchão de ar, agradavelmente, sem pressa.

Chegamos a uma praça que tinha um quiosque de informações, paramos para inquirir. Malhado se dirigiu para um regato de águas límpidas situado bem no centro da praça. Enquanto bebia água e depois degustava a grama verdinha, apetitosa, Malhado aproveitava para apreciar as crianças que brincavam no parquinho (playground) existente no local.

 – Sejam bem vindos – disse a linda moça negra, com voz melodiosa. Ela transmitia serenidade, seus olhos e sua boca sorriam enquanto falava. – posso ser útil, precisam de alguma informação?

 – Sim, chegamos aqui, eu e o Malhado, por acaso. Gostaríamos de saber que lugar é esse.

 – Na verdade – ela disse – vocês não vieram para cá por acaso. Tudo tem um propósito. Este lugar, como vocês estão vendo é muito tranquilo, mas não foi sempre assim. Aqui tinha violência, corrupção, roubos, injustiça social, desemprego, pobreza, poluição, doenças, preconceitos. Enfim, faltava respeito ao ser humano e à Natureza. Até que um dia chegou um grupo de saltimbancos. Aqueles malabaristas foram conquistando aos poucos pequenas porções da população, depois a maioria da população. Aquelas pessoas que antes só viam televisão, agora começavam sair para as ruas para ver as acrobacias dos saltimbancos. Depois de certo tempo, eles começaram a mostrar espetáculos teatrais. Isso tudo foi despertando o cérebro adormecido do povo para as coisas da realidade. Após o teatro, eles começaram a trazer livros e assim nossa população foi evoluindo e tomando consciência de que as coisas poderiam ser diferentes. Que dependia de nós continuar naquela tristeza, convivendo com a violência, corrupção,... Ou dar um salto de qualidade transformando o país em um lugar melhor para se viver.

As pessoas começaram a conversar mais, ter uma convivência em comunidade. Vizinhos que mal se viam de vez em quando, agora passavam horas trocando experiências enriquecedoras. O crescimento intelectual das pessoas foi tanto que o país começou a se transformar. A primeira medida tomada foi uma lei de iniciativa popular que rezava o seguinte:

Parágrafo 1: Todas as ruas e praças deste país deverão ser arborizadas com árvores frutíferas em toda sua extensão, para que não faltem frutas na alimentação do nosso povo, melhorando assim a saúde da população. E assim, a população foi criando leis como: garantia de emprego para todas as pessoas, direito à moradia digna para todos, direito à saúde de boa qualidade. Direito ao ensino gratuito da pré-escola até a faculdade, para todos, independente de classe social. E outras.

Aliás, esse negócio de classe social, aqui já não existe mais, nós abolimos todas as diferenças.

Nesse momento eu interrompi a moça e perguntei:

 – Mas como é isso? Eu acho legal diminuir as diferenças, mas não consigo entender por exemplo um lixeiro ganhando o mesmo salário de um médico.

Ela explicou:

 – Aí é que está, em nosso sistema todas as pessoas têm o mesmo nível intelectual, tanto o médico como o gari, como o servente, ou qualquer outro profissional. Aliás, o gari que recolhe o lixo da minha rua é formado em Filosofia e Sociologia, o servente do prédio onde moro é formado em Astronomia e está sendo cotado para ser um dos tripulantes da próxima viagem interplanetária com destino à Saturno, o ascensorista já escreveu  vários livros de fama internacional.

Nesse momento eu a interrompi novamente:

 – Puxa vida, minha cabeça está girando, estou tonto com tudo isso que você está me contando.  E você, o que faz além de atender o público neste quiosque de informações?

 – Eu, bom, este ano estou como Presidente da República e dou plantão neste quiosque uma vez por semana.

Nisso, o Malhado se aproximou e parou perto de nós. A presidenta fez um carinho no Malhado e se despediu de nós dizendo:

 – Tudo que existe está relacionado. O bem individual é impossível sem o bem coletivo. Só depois que entendemos isso é que conseguimos acabar com a violência e com todos os outros males que afligem o Mundo.

Montei o Malhado e fomos andando e andando. Atravessamos o país de ponta a ponta, comprovando tudo o que ela dissera. Tudo que vimos naquele país, além de nos encher de entusiasmo e esperança, aumentou muito a nossa vontade de lutar por um Mundo melhor.

Novamente aquela névoa nos envolveu... Quando saímos dela não havia nada além da planície. Galopamos um pouco. Aliás, ainda estamos galopando a procura daquele lugar maravilhoso. O país ideal.

Continuaremos, eu e o Malhado, nessa busca do país ideal enquanto a gente viver. 23.51h

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