domingo, 24 de outubro de 2010

PEDIDO DE DESCULPAS, EXTENSIVO ÀS ALUNAS E AO ALUNO ANDERSON

Prezada professora Cláudia Baldo, saudações.

Peço-lhe desculpas pela apresentação desastrada. Percebi em seus olhos a decepção com relação à minha apresentação; claro que você esperava algo melhor, que fosse pelo menos razoável. E você tinha toda razão em ficar decepcionada com “aquilo”; aquela “coisa” que não se pode chamar de apresentação, também me deixou desiludido comigo mesmo, e, as alunas e aluno também creio que ficaram muito desapontados com o Laércio. “Puxa vida, é esse o cara que nós homenageamos com o nome da nossa turma, não pode ser...” Saí da aula arrasado e estou muito envergonhado pelo vexame que eu poderia ter evitado. Mas...se eu não apresentasse nada, talvez no meu íntimo eu ficaria muito mais destroçado, a ponto de desistir do curso de Pedagogia; então eu fui, mesmo sabendo que seria a lástima que foi.

Desculpe-me estar tomando o seu tempo, mas, preciso te dizer algumas coisas: Meu sonho, desde rapaz, foi me tornar professor, mas me casei cedo demais (22 anos), e sem muita experiência, fomos engravidando, um filho após outro, tivemos 5, com mais uma que minha esposa já tinha, pois era mãe solteira, somos pais de 6 bênçãos de Deus. Com família para criar e ganhando sempre muito pouco, nunca consegui realizar meu sonho. Agora, já na 3ª idade, fiz o ENEM, tentei o PROUNI, consegui afinal entrar para o curso de Pedagogia em uma ótima faculdade, com ótimos professores e sem custos de mensalidade, ou seja, da única maneira que eu poderia estar fazendo um curso superior, pois o que ganho apenas dá para as despesas básicas da minha vida operária. Sinto que há muita gente torcendo por mim, apostando em mim, e não desejo decepcioná-los, também não desejo ficar decepcionado comigo mesmo; preciso ir até o fim, nem que seja a última coisa que eu faça na vida. Entretanto, há mais uma coisa que preciso dizer a você:

Minha vida não é nada fácil.

· Acordo às 6h da manhã para ir ao trabalho, entro as 7:30. Meu trabalho é muito cansativo para um homem de 62 anos, andar o dia todo na rua debaixo do sol, batendo de casa em casa.

· Saio às 16:30h vou para casa e rapidinho tomo banho e como alguma coisa.

· Às 18h saio para a faculdade, afinal, não gosto de chegar atrasado.

· Faculdade das 19:30 as 22:30.

· Chego em casa entre 23 e 23:30h.

· Tenho até meia noite para uma conversinha rápida com a esposa, afinal se eu me deitar depois da meia noite terei menos de 6h de sono e aí não agüento o batente do dia seguinte.

· Aos sábados, domingos e feriados, invariavelmente viajo para Jardinópolis onde dou assistência para uma irmã doente e sem renda, que foi abandonada pelo marido. Ótima pessoa minha irmã Liliana, mas totalmente dependente de mim, inclusive financeiramente (água, iptu, luz, alimentação, etc). Então, nesses sábados, domingos e feriados, que eu deveria estar estudando, cuido das coisas da minha irmã: vou fazer umas comprinhas de mercado, farmácia, faço uma limpeza geral na casa e no quintal; de vez em quando tem alguma manutenção na estrutura elétrica, hidráulica, ou eletrodoméstico com algum problema. Também não posso deixar de lado a ajuda espiritual e afetividade fraterna: conversar com ela, ler a Bíblia junto dela; estas e outras coisas, sempre que possível, minha esposa colabora comigo, quando dá para ela me acompanhar nestes dias de amparo fraternal. Graças a Deus minha esposa é uma pessoa muito companheira e compreensiva, pois acredito que dificilmente eu encontraria outra mulher igual a ela, que além de dar toda assistência aos filhos e netos, ainda tem a capacidade de compreender essa situação, e ainda ajudar, quando pode.

Sei que tudo isso que eu lhe falei, não pode, nem deve servir de desculpas para o ocorrido em sala de aula; enfim, é aquele velho dizer popular: “Quem não pode com a mandinga, não carregue o patuá”. Todavia, eu não queria que você ficasse com uma péssima impressão sobre a minha pessoa.

Quero também, aqui, se me for permitido, assumir um compromisso. É o seguinte:

Se eu tiver outra chance, mesmo que seja no próximo ano, pois neste sei não ser possível, porque não entreguei a monografia escrita em tempo hábil, e, também sei que para este ano não vou dar conta mesmo. Então, se essa chance me for dada, eu me comprometo a fazer um ótimo TCC e uma ótima apresentação, para o próximo início de ano letivo. Desejo que o Centro Universitário Barão de Mauá sinta orgulho de formar o aluno Laércio Pires, que os meus colegas também sintam o mesmo, e que eu vou sentir honrado de ter estudado com eles e elas; e também me sentirei honradíssimo em ter estudado com as melhores professoras e professores que já conheci na vida.

Imensamente agradecido

Laércio Pires

2 comentários:

Marly Carvalho disse...

Voce vai além...
Um educador deve ir sempre além da sala de aula.não há vida sem correção, sem retificação.A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.
“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” Freire.
Estou repetindo uma fala do Walter Machado Fonseca que nos ensina ser um educador à moda Paulo Freire: É preciso amar a vida, acreditar nas utopias, na transformação, numa sociedade mais justa e igualitária. Do mesmo modo, é preciso ter dentro de si a esperança, a ousadia, a coragem de enfrentar as adversidades do dia a dia e as repentinas; é preciso, igualmente, acreditar na integridade, na beleza, e no poder de transformação dentro do ser humano, principalmente daqueles a quem a vida fecha as portas, dos “demitidos da vida”, dos “esfarrapados do mundo”.
Sua história de vida não é diferente da hist. de Freire, portanto, tenho certeza absoluta que vc. já é um educador na vida e pela vida. abraços da amiga da grande sala de aula que é a Vida!
Marly

Gazetta Revolucionária disse...

Marly Carvalho,
Minha amiga, você é realmente SINGULAR, ou seja,,, não há outra, você é única como são únicos os seus escritos. Muito obrigado por ter lido meu desabafo a respeito da minha apresentação de TCC,,, agradeço também por você ter respondido e principalmente da forma que respondeu,,, O Pequeno Príncipe, em uma de suas falas diz: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". É o que acontece realmente quando somos amigos de verdade de alguém,,, cativamos e pronto,,,
Beijos
do colega da grande sala de aula que é a vida
Laercio Pires